A Propositário Azul, Associação Artística de Lisboa, apresentou na mítica sala de teatro do NACO, em Oliveirinha, no sábado, 18 de Janeiro, o espectáculo bilingue “3 X Beckett = …”, produzido por Jim Boerlin e constituído por três dramatículos de Beckett (“Vai e Vem”; “Passos”; “Não Eu”).
Depois de no ano passado ter apresentado o espectáculo em Lisboa, no Teatro da Trindade (Julho), e em Montemor-o-Novo (Outubro), no Festival de Teatro de Montemor, a Propositário Azul trouxe-o agora ao concelho de Carregal do Sal no âmbito de uma parceria de digressão com o Núcleo de Animação Cultural de Oliveirinha (NACO).
Enquanto que em Nova Iorque, na sua estreia no Instituto Cervantes, em Julho de 2012, o espectáculo foi falado em inglês, com a portuguesa Sónia Neves ao lado de uma actriz canadiana e outra espanhola, em Portugal tem sido falado em português (Sónia Neves e Sara Graça) e castelhano (Rocio Galán). O dramatículo “Vai e Vem” é interpretado por estas três actrizes, dividindo-se depois na interpretação dos outros dois dramatículos, com Rocio Galán e Sara Graça em “Passos” e Sónia Neves em “Não Eu”.
Os três dramatículos reflectem a perspectiva tragicómica sobre a natureza humana que Beckett aborda nos seus trabalhos, incorporando uma visão emocional e uma estrutura sincronizada. Em “Vai e Vem”, três elegantes mulheres (Vi, Flo e Ru) sentam-se num banco e lembram os velhos tempos de escola. A dado momento, uma a uma sai do palco e na sua ausência as outras duas cochicham um segredo terrível sobre a que se retirou e que depois volta ao banco, numa sequência em que todas passam pela mesma situação de sedução, suspense e intriga. O dramatículo “Passos” é todo ele um diálogo entre May e sua mãe acamada, que não se vê, mas ouve-se a sua voz (Sara Graça). May (Rocio Galán) move-se continuamente de um lado para o outro, num vaivém simétrico de nove passos para cada lado, em que o arrastar dos pés e as expressões faciais têm uma dramaturgia intensa e perfeitamente intuitiva. “Não Eu” é um monólogo falado por Sónia Neves, em que o público apenas vê a sua boca, dando voz a uma mulher que esteve impedida de falar há muito tempo e que num discurso incessante, com frases entrecortadas, parece vomitar fala, dando expressão a um admirável exercício vocal.
Um excelente espectáculo, com que o NACO iniciou da melhor maneira a temporada de 2014. O público brindou as actrizes com uma estrondosa ovação, obrigando a voltarem ao palco, sinal do apreço pelo seu brilhante desempenho. Pena que a assistência se ficasse praticamente pela meia casa, não atingindo a meia centena de presenças!
A conversa final entre o público e os actores esteve muito participada e bastante acolhedora, em que Sónia Neves também falou do seu envolvimento na produção deste espectáculo em Nova Iorque (EUA), tendo ainda referido que o espectáculo resulta melhor em auditórios pequenos e dado a conhecer que a próxima apresentação será no Centro Cultural de Coruche, seguindo-se Barcelona e festivais internacionais de teatro.
Reviewed by Rui Dias
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janeiro 20, 2014
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