Apesar de ter por orago São João Baptista, em São Joaninho as festas de São Lourenço, venerado a 10 de Agosto, adquirem um relevo de especial referência, proporcionando muita alegria e animação nesta altura do ano. A Igreja refere-o com padroeiro dos diáconos, mas, segundo alguns autores, São Lourenço também é considerado protector dos grelhadores, dos pasteleiros, dos estalajadeiros, dos bibliotecários, dos bombeiros, dos profissionais do vidro e dos pobres, admitindo-se que os grelhadores, os cozinheiros e os pobres tenham sido os primeiros a reivindicar a seu estado de protecção e os primeiros a comemorar o seu dia.
Face a esse relevo das festas de São Lourenço, o Grupo Cénico de São Joaninho decidiu criar este ano a peça de teatro “O Martírio de São Lourenço”, no âmbito do programa dessas festas, que apresentou no passado dia 8, no Centro de Artes Cénicas do Clube Recreativo São Joaninho, com grande sucesso.
Umas porque não tiveram lugar livre naquele dia ou não puderam estar presentes e outras porque ansiavam rever a peça, várias pessoas pediram para que a mesma fosse ali repetida. Satisfazendo pedidos recebidos nesse sentido, o Grupo Cénico de São Joaninho repetiu-a ontem, 18 de Setembro, à noite, perante uma boa assistência, muito à beira da enchente, destacando-se as presenças do presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão, João Lourenço, dos vereadores Fernando Cruz e Manuela Alves, do presidente da Junta de Freguesia de São Joaninho, José Cruz, e do deputado/conterrâneo José Rui Cruz.
A boa concepção dos cenários e dos figurinos e a forte carga emocional dos personagens foram os pontos fortes da teatralidade dramática conferida à peça, a par do bom controlo de som e dos harmonizados efeitos de luz. Tirando pormenores quase despercebidos, a interpretação cumpriu bem o seu papel, impondo-se acrescentar uma nota especial, pelo exemplo que dá de apreciada integração na comunidade, à participação do respectivo pároco, Pe. Virgílio Rodrigues, no elenco, onde lhe cabe o papel do papa que São Lourenço assistia nas celebrações.
No essencial, a directora artística Sandra Barradas conseguiu que a peça traduzisse, dentro duma lógica fiel, o martírio de São Lourenço, dimensionando-a aos aspectos respeitantes à administração que São Lourenço exercia nos bens da Igreja; à acção que desenvolvia no apoio aos necessitados, órfãos e viúvas; à confissão de que a Igreja era muito rica e que a sua riqueza ultrapassava a do imperador; à intimidação para prestar contas ao governador dos bens e das riquezas que a Igreja possuía;ao prazo concedido de três dias para o fazer; à apresentação dos cegos, coxos, aleijados, enfermos, crianças e velhos como a maior riqueza da Igreja; e à indignação do governador, que culminou no suplício cruel de mandar assar vivo São Lourenço, amarrado a uma grelha, o qual a meio dos tormentos mais atrozes, manteve o seu “bom humor cristão”, dizendo aos guardas: “Virem-me, deste lado já estou bem assado!”.
Parabéns!… Merece repetição… e mais outra gente a ver!
Lino Dias

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