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Carregal do Sal - Sessão Solene: Também em crise.

ARTUR FONTES

Artur. Fontes.jpg«Todos gemem com o estado actual, todos aspiram a um futuro melhor»

Calonne, 1790

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As palavras deste homem, (controlador geral das finanças), demonstram bem quão conturbada era a situação na sociedade francesa, do Sec.XVIII. Proferidas há cerca de 220 anos, elas não deixam, ainda, de ter sentido para os dias de hoje. Nessa época, de profundas transformações político-sociais, os homens do pensamento, (os “philosophes”) filosofavam sobre a sociedade em que viviam. As novas ideias espalhavam pelos salões e destes para toda a França e Europa. Promoviam-se círculos culturais onde as ideias fervilhavam. Preparava-se, assim, um futuro que iria revolucionar toda a Europa de então: O “antigo regime” iria dar lugar a um “mundo novo”!

Diderot, outro homem importante dessa época, escreveu. «Esta é a nossa situação actual, e quem poderá dizer por onde nos levará?», (Ouevres, XX). Tal como nesses dias, os estudiosos de hoje interrogam-se perante a tremenda crise financeira que grassa por todo o mundo assim como, em Portugal. Promovem-se colóquios, mesas redondas, escrevem-se artigos, enfim, reage-se à crise que a todos toca. Uns mais do que outros. E, neste último grupo, a alguns pouco toca, pois são ou foram os principais responsáveis da crise, vindo mesmo a ganhar com ela. Hoje, tal como no passado, as dúvidas, as incertezas, a procura de saídas para a crise, requerem novas respostas. Contudo, a natureza da crise é, apenas, determinada a partir do seu fim e o fim da crise corresponde ao entendimento que uma época tem de si mesmo. Dentro deste processo, ou dentro deste entendimento pelo desenrolar da crise a própria sociedade transforma-se em tribunal moral. A sociedade toma consciência de si, acorda, organiza-se embora em desespero e rejeita aqueles que a afundam num sentimento de engano, de desilusão e frustração.

Contudo, F.D. Roosevelt escreveu: «de toda a crise a humanidade se ergue com uma parcela maior de conhecimento, uma dignidade mais altiva e um propósito mais puro», (citado por W. Besson, in “ Die Politische…des Prasidenten F.D. Roosevelt”, 1955).

Porém, no nosso caso, a despesa assim como a dívida pública, associadas a um crescimento económico baixo, com elevados défices quer orçamentais quer da balança de transacções correntes, deixa-nos num Portugal debilitado. José Manuel Fernandes, em artigo publicado no jornal “O Público” (Abril 2010) explica que: «(…) à dívida do Estado é necessário somar a dívida das empresas e particulares, sendo que uma parte desta é dívida pública escondida (caso de empresas públicas e dos encargos gerados pelas PPP). A nossa produtividade é muito baixa, a nossa incapacidade de crescermos deriva da falta de competitividade e também da falta de rentabilidade dos investimentos que temos feito».

Efectivamente, Portugal não está no mesmo lamaçal que a Grécia pois, neste País, um em cada quatro gregos da população activa é empregado pelo Estado, o que equivale aproximadamente a um milhão de pessoas! Por outro lado, mais de 80% da despesa é destinada a ordenados, salários e pensões destes trabalhadores do sector público. Um volume monstruoso de recursos, que poderiam ser aplicados em sectores produtivos de riqueza e rendimentos, são canalizados para atribuições de privilégios a grupos como advogados, notários públicos, proprietários de frotas de camiões, abastecedores de mercados centrais, farmacêuticos. Isto é, mais de 70% da população grega recebe o seu rendimento com base, total ou parcialmente, em impostos ou taxas, segundo o jornalista Takis Michas. Significa que, as taxas a pagar em transacções vão para benefícios de grupos que não fazem parte da transacção em causa. Por exemplo, para começar um negócio na Grécia, deve pagar 1% do capital inicial ao fundo de pensões de advogados; ou, por exemplo, quando se compra um bilhete de barco, 10% do preço é para o fundo de pensões dos trabalhadores do porto. Quando se vende mercadoria ao exército, 4% da sua receita vai para o fundo de pensões dos oficiais do exército. Por estes dados, poderemos ter a noção da enorme clientela que gira à volta do aparelho político, o qual lhe garante os tais benefícios pecuniários em troca de favores.

Bom, mas este texto, vem a propósito da Sessão Solene, realizada no passado dia 19, do corrente Mês, dia de Feriado Municipal.

Não vejo apropriada a Homenagem a Aristides de Sousa Mendes no dia em que se iria debater o painel sobre “Mercado Interno, Globalização e Emprego em tempo de crise”?!?. Cada tema merecia um tempo “seu”. Se é sempre actual e premente a recordação dos tempos e do esforço heróico do nosso Cônsul, Herói da Humanidade, ele não deve ser banalizado e “misturado” com temas tão díspares. Quanto ao painel com representantes de algumas firmas do nosso concelho, julgo que, foi uma oportunidade perdida, pelo facto da falta de tempo em prejuízo de diálogo entre os empresários e suas perspectivas e percepções, sobre tão importante tema. Este requeria tempo e um moderador. Só assim, serão expressas as experiências de cada um e desta forma, poder-se-ia enriquecer um público interessado, se não mesmo os próprios empresários. Faltou saber que estratégias e planos concretos de desenvolvimento, por exemplo, possui a nossa Câmara e, se elas se enquadram nas estratégias dessas mesmas firmas? Faltou saber que esforços e em que direcção o município se movimenta e que apoios presta às empresas ou às que nos procuram? Que plataforma industrial existe? Se, por exemplo, na área dos vinhos, as firmas pretendem seguir caminhos isolados na exportação ou se pensam criar estruturas em conjunto para melhor concorrerem com os vinhos estrangeiros e ganharem mercados de difícil penetração? Como é que os empresários geriram a relação de forças entre o mercado e o mundo empresarial, por um lado, e o poder político, por outro? É verdade que houve quem abordasse de uma forma ponderada, reflectindo conhecimentos resultantes de análises e estudos sobre a internacionalização, apontando caminhos seguidos pelos próprios, mas, como disse, faltou o debate e o aprofundamento entre os empresários na mesa. Os empresários merecem todo o nosso respeito e apoio.

Os empresários, os gestores, os empreendedores têm como fim a criação de riqueza para as suas firmas, isto é, ganhar dinheiro. O lucro não é mais do que a remuneração do risco, da inovação e da própria energia empresarial, li algures, esta explicação. Porém, como mantêm as relações dentro das suas empresas e com os consumidores? Se, de facto, a respeitabilidade para com cada grupo tem existência efectiva? O consumidor é quem valoriza o produto acabado, portanto, é ele, no fundo, quem se transforma em verdadeiro “mercado”, dando a esta complexidade o carácter humano nas relações da oferta e procura, assumindo-se como o verdadeiro regulador deste processo.

Acrescento, que se todos aspiram a um futuro melhor, este terá que ser construído por todos aqueles que, directamente ou indirectamente, estão relacionados com as empresas. Estas, sendo uma organização humana, deverão melhorar a qualidade moral do capitalismo democrático, para que as “imperfeições” dentro delas sejam combatidas em prol das sociedades em que se inserem. O resultado, será no cumprimento das suas funções sociais. Assim, toda a sociedade ganhará!

Carregal do Sal - Sessão Solene: Também em crise. Carregal do Sal - Sessão Solene: Também em crise. Reviewed by Rui Dias on julho 22, 2010 Rating: 5

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